terça-feira, 4 de novembro de 2014

O que esperar do segundo governo de Dilma?


As eleições presidenciais acenderam o sinal amarelo para o PT, uma vitória apertada exigem algumas reflexões. Apesar da profunda experiência que os trabalhadores tiveram com o PSDB na década de 90, com arrocho salarial, inflação e desemprego, os tucanos estiveram prestes a ganhar a presidência. Com uma vantagem apertada do PT, a contradição: governar para os empresários e resolver a vida do dos trabalhadores. Começa a ser resolvida pela negativa.

O endividamento já atinge 45,7% das famílias brasileiras. Os juros estratosféricos(cheque especial atinge 183% a.a) são a alegria dos banqueiros e o desespero dos trabalhadores, que veem mais distantes a possibilidade de pagar as suas contas. O salário do trabalhador passa a perder poder de compra e a politica de retardamento da crise econômica apresenta importantes limites. A economia brasileira passa apresentar sinais de estagnações. Apesar de uma série de políticas sociais(limitadas, pois se da muito mais para os bancos do que programas sociais), o discurso Anti-PT foi engrossado.
Porém, quem passa a capitalizar esse sentimento é a direita. Esse processo já se expressou na eleição da câmara dos deputados, elegendo a bancada mais conservadora desde 64. A dinâmica futura ainda está em disputa, porém os elementos de direita contam com melhores condições subjetivas. Aécio sai das eleições fortalecido e pela primeira vez, consegue ser uma figura que consegue coesionar PSDB depois de FHC.


O próximo mandato, um governo mais frágil

Dilma, às vésperas das eleições passou por uma crise significativa com o PMDB, que até aos 49 do segundo tempo ameaçou a não fechar a chapa. Por isso, o governo petista enfrentará dificuldades, no ponto de vista interno, e um congresso mais hostil. Isso se materializará em um governo mais dependente dos setores mais podres da política para manter a governabilidade. E o conjunto dos movimentos sociais tem uma relação mais fragilizada com governo, ou seja, se aprofunda uma correlação de forças mais desfavorável a medidas progressivas.
Essa dinâmica se materializará em um governo mais de direita(dentro das nuances da frente popular). Diferentemente de 2002, onde Lula contava com forte prestígio popular, uma conjuntura mais esquerdizada na América Latina existia nessas condições a possibilidade de se aplicar medidas mais contundentes contra o capitalismo. Já Dilma será um governo ainda mais subordinado ao capital e sua postura é ceder a esses setores. A sinalização de permanência do pagamento da dívida pública, o chamado a unidade com os setores do capital financeiro e produtivo expressam isso.
Outro aspecto que reflete isso é a possível composição de ministérios, que ao que tudo indica será um ministério mais conservador, contrariando a tese de alguns setores que o tom mais esquerdizado de Dilma se refletiria do ponto de vista prático. Provavelmente o PMDB ampliara o números de ministérios de 5 para 6, sendo que o 6° seria ou Educação, Saúde ou transporte. Alem disso é necessário oferecer vagas para partidos novos, PROS(Ciro Gomes), PSD(Kassab). Ou seja, uma relação mais fisiológica com setores de direita para garantir a governabilidade.

Que postura ter frente ao segundo mandato de Dilma?

Uma politica que se expressou especialmente no segundo turno é o apoio politico(critico ou acrítico) a Dilma para enfrentar a direita. A derrota da direita e dos setores mais reacionários é uma tarefa necessária ao conjunto do movimento social, mas é a desmoralização de governos de frente popular ao adotarem uma política de conciliação de classe que serve de antessala para governos mais reacionários. O governo frente populista irá sucumbir, a questão é na cabeça de quem irá cair seus pedaços?
Ou será nos trabalhadores ou na direita e setores reacionários.
Apoiar o governo frente populista até o fim leva inevitavelmente a negação de antemão de uma alternativa de esquerda. A derrota de Jango(64) e Allende(71) expressam isso. Frente a ameaça da direita, o campo popular se negou a construir um campo independente e optou pelo apoio incondicional ao governo. Já na Russia(17) os bolcheviques optaram em militar para construir um 3° campo dos trabalhadores, em oposição a Kerensky(governo de frente popular) e a ameaça do retorno da monarquia.
A dinâmica futura se dará pelos aspectos subjetivos, por isso a construção de uma alternativa que unifique a esquerda e os trabalhadores. É um completo delírio nessa conjuntura existir 4 centrais/colaterais sindicais de oposição de esquerda. (Conlutas, Intersindical, Intersindical Vermelha, Unidos para Lutar) Além disso, existir 4 candidaturas de oposição de esquerda(PSOL,PSTU, PCB, PCO) nessas eleições também não contribuiu para esse processo. Por isso, lutamos pela convergência dos setores combativos. E afirmamos de forma categórica, abraçar o governo até o fim significa um grande erro, erro já cometido inúmeras vezes na história, erro no qual não estamos dispostos a cometer mais uma vez.

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