terça-feira, 4 de novembro de 2014
Após o primeiro turno: algumas observações e uma certeza!
Junho de 2013: O Brasil foi sacudido com enormes mobilizações, nos meses seguintes vimos greves e paralisações unificadas. Os trabalhadores brasileiros sentiam uma enorme vontade de mudanças e isso os encorajou a ir às ruas. Porém, durante todo esse processo, existiu uma marca importante que foi a forte negação das direções do movimento: tanto as traidoras quanto as combativas.
Durante todo esse período, era perceptível para setores do movimento que a direita disputava os rumos das manifestações. Os socialistas não só não conseguiam disputar suas pautas (ou nem as apresentavam), como em algumas situações foram expulsos fisicamente das passeatas. Essa conjuntura rica, porém contraditória, passa a ter um ponto de retrocesso na greve de Metroviários de SP: nesta, diferente das que vinham ocorrendo, não contou com a solidariedade popular e culminou na demissão de dezenas de ativistas(que hoje vem sendo reintegrados judicialmente), se configurando como uma importante derrota. O movimento foi perdendo força, e chegamos na Copa do Mundo já num refluxo. O sentimento da população em relação a copa se reverteu drasticamente.
Em 2014 temos campanhas salariais mais fracas, de menor duração e intensidade (com poucas exceções). E nessa conjuntura chegamos a outubro.
O resultado eleitoral expressou esse refluxo: foi eleita a bancada mais conservadora desde 64, bandeiras de traços religiosos/fundamentalistas, de combate aos direitos humanos e xenofóbicas passam a ganhar pesos. A vitória de Alkmin no primeiro turno, com 54% dos votos, no estado onde explodiu as jornadas de Junho deveria nos deixar no mínimo intrigados. Na disputa presidencial a fragilidade de Marina Silva possibilitou que Aécio, acaudilhando setores reacionários, retorna-se a disputa. O resultado do segundo turno está em aberto, mas existe a possibilidade do PSDB retornar ao Governo.
Esse novo momento exige de nós algumas reflexões. Primeiro: a oposição de esquerda não conseguiu capitalizar o desgaste que o governo vem tendo no último período, e, nesse sentido, a direita passa a aglutinar esse sentimento de mudança. Segundo: agora estamos sentindo com mais clareza os reflexos da crise ideológica imposta aos trabalhadores após a restauração do capitalismo no leste europeu. E essa crise se estendeu sobre o conjunto das organizações socialistas.
Não é a toa que, em regra, as organizações saíram mais fragilizadas de Junho ou estagnadas, ou seja, o ascenso não trouxe a possibilidades de saltos qualitativos nas organizações revolucionárias. Assim como ficou demonstrado na América Latina em 2001-2002 e, recentemente, na Europa e norte da África.
Ainda, com as jornadas de Junho é possível aplicar aquele velho clichê: “o que não avança retrocede” e estamos sentindo os primeiros traços desse retrocesso. A história brasileira recente nos dá inúmeros exemplos do que estamos (re)escrevendo: a saída “negociada” da ditadura brasileira se expressou na vitória de Collor nas primeiras eleições diretas, o acordo para que o vice de Collor assumisse, durante a luta do Fora Collor , nos deu em seguida 8 anos de FHC.
Mas estaria errado afirmar de forma categórica que o resultado final dessa dinâmica está dada. Setores do movimento reagem de forma contundente as pautas reacionárias. A luta contra o machismo, homofobia e racismo passa a ganhar peso na mídia e inclusive Dilma passa a adotar com mais freqüência essas bandeiras em seu programa. E o mais importante: as categorias organizadas não sofreram uma derrota categórica, ou seja, os dados ainda estão rolando.
Nesse sentido a construção de uma alternativa política de esquerda é necessária para interferir nos rumos do processo. O primeiro passo poderia se dar nas eleições, com a Frente de Esquerda, o que não se confirmou. Nas eleições que sucederam as maiores mobilizações das últimas duas décadas a oposição de esquerda não conseguiu, somada, fazer 2%!
Achamos que a tarefa de se construir um pólo de esquerda socialista no Brasil é urgente, e estamos dispostos a ajudar nesse processo. O passo seguinte se passa por construir um campo independente dos patrões e das organizações que buscam coalizões com os mesmos, e isso em nossa opinião traz reflexos no segundo turno.
Infelizmente, os governos “progressistas” que se dispõem a administrar o capitalismo acabam de duas formas: ou numa completa desmoralização ou derrubado militarmente. É o preço que se paga por construir um governo de coalizão entre trabalhadores e patrões. As raras exceções onde esses governos foram superados pela positiva, foi na Rússia, em 1917 com o governo Kerensky, e, de certa forma, em Cuba depois que a ditadura de Fulgencio Batista foi derrotada, e assumiu como premier José Miró Córdoba, que renunciou o governo cubano dando lugar a Fidel Castro que passou a tomar posturas anticapitalistas.
Entendemos o sentimento de parte do ativismo que mesmo tendo profundas diferenças com o PT irá votar em Dilma no segundo turno, pois querem derrotar a onda reacionária e impedir retrocessos nas áreas sociais. Porém existe uma luta imprescindível, tentar construir um 3° campo socialista, única garantia de derrotar de fato a onda reacionária. Até porque, depois das eleições, a direita continuará a desgastar o governo com pautas reacionárias, e qual será nosso papel diante disto? Tentar sustentar o governo até sua desmoralização completa? Achamos que não é isso que devemos fazer.
Por isso entendemos que é necessário votar nulo no segundo turno. Por um único motivo: não existe uma alternativa que enfrente os patrões. Tanto PT quanto PSDB em 20 anos de governo destinaram parte significativa do orçamento para os grandes bancos com amortização dos juros da dívida pública, aplicaram planos de privatização, e durante as manifestações de Junho, reprimiram duramente as manifestações.
Seguimos militando, para ser parte da construção desse pólo socialista e com nossas modestas forças seguiremos na luta para derrotar de forma completa a direita. Mas, principalmente, para liquidar toda forma de exploração e opressão, na tentativa da construção de um Estado dos Trabalhadores, democrático e socialista. Não iremos “para casa”, mas também não nos propomos a nos cristalizar enquanto agrupamento que auto se intitula: “O Partido Revolucionário” como fazem as dezenas ou centenas de agrupamentos no Brasil e no Mundo. Estamos dispostos a debater com outras organizações que se aliem com nossa forma de pensar, e, principalmente, lutaremos pela convergência do campo revolucionário.
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