Lucas Sena
Endividamento, pressão no trabalho, trânsito caótico e preocupações do
dia a dia: São os elementos que empurram milhões de brasileiros(as) para
doenças que aparentemente são silenciosas e muitas vezes ignoradas. Depressão,
insônia, ansiedade, consumo de drogas e suicídio, às vezes encaradas como
“besteira” ou desvio de caráter. Mas afinal porque doenças de cunho
psicológicas crescem de forma vertiginosa em nossa sociedade?
A
Primeira questão a ser levada em consideração é que a saúde mental está intimamente
relacionada a saúde física. A mente não é algo a parte da vida “real”, pelo
contrario, a saúde mental é “um termômetro” de como anda nossa vida. A segunda questão
é que as doenças psicológicas estão causando impactos devastadores na vida de milhares
de pessoas.
Elementos como: um ritmo de trabalho
alucinante, e o endividamento entre as famílias brasileiras, que atinge 63%, contribuem
para uma sociedade cada vez mais doente. Combinado com a venda da imagem de uma
vida ideal(de consumo), impossível de ser alcançada. Uma sociedade que oprime
mulheres, negros e LGBT´s, empurram
esses índices de doenças psicológicas para o alto.
Outro aspecto a ser levado
em consideração é sobre a sexualidade, que é tratada de forma muito contraditória.
Existe um estimulo precoce a sexualidade, a partir da mercantilização do corpo e
do sexo, mas em compensação o sexo é ainda tratado como um tabu. Existe uma
alienação da vida sexual, o sexo ao invés de ser uma atividade prazerosa passa
a ser mais um elemento de tristeza.
Os elementos citados empurram milhares de
pessoas para uma vida de sofrimento. No Brasil, 7,6% dos brasileiros sofrem de
depressão, é a quarta doença crônica mais diagnosticada no Brasil(PNS/2013).
Esse índice na pratica pode ser muito maior, pois o tema da depressão ainda é
tratada como tabu, e a rede de saúde pública ainda tem uma estrutura limitada
para diagnosticar e tratar os(as)
brasileiros(as).
Outro fato é que as preocupações do dia a dia
e uma vida de constante frustrações podem aprofundar o quadro clinico de danos psíquicos,
a insônia se generaliza entre os brasileiros. Segundo Geraldo Rizzo,
neurologista, presidente da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia, 40% dos
brasileiros sofrem de insônia em algum momento da vida. A insônia leva a
fadiga, depressão, distúrbios do humor, queda do desempenho profissional,
afetivo e sexual e causa acidentes de trabalho.
Segundo o Anuário Estatístico da Previdência
Social de 2011, mais de 211 mil pessoas foram afastadas do trabalho em razão de
transtornos mentais. Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo (USP) mostrou de que forma os transtornos mentais podem estar ligados
a pressões impostas no ambiente de trabalho. Esta é a terceira razão de afastamento
de trabalhadores pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
É evidente que uma sociedade tão insana, cause inúmeros
transtornos psicológicos nas pessoas, um dos caminhos “naturais” para aliviar a
dor do sofrimento é procurar “alguma fuga”. Não é de se estranhar que o consumo
de drogas tem um elevado crescimento no ultimo período. Nos últimos oito anos, o SUS (Sistema Único
de Saúde) registrou um aumento de 900% no atendimento a dependentes químicos.
Já os afastamento do trabalho decorrente do consumo de drogas cresceu de 2009 á
2013 cerca de 22%.
Em casos extremos a pessoa
que está sofrendo do transtorno “opta” por outro tipo de fuga. O suicídio muitas
vezes acaba sendo uma “saída”. Segundo estudos da OMS, o Brasil é o oitavo país
em número de suicídios. Em 2012, foram registradas 11.821 mortes. Entre 2000 e
2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre
mulheres e 8,2% entre os homens.
Os transtornos psicológicos a cada ano que
passa se tornam mais epidêmicos, é necessário adotar medidas concretas para
reverter esse quadro. O primeiro passo se passa por ampliar o atendimento
psicológico na rede publica de saúde e nas escolas. Para essa media ser adorada
é necessária uma reversão completa de prioridades orçamentarias no Brasil. Hoje
o governo federal gasta em média 45% do orçamento com pagamento dos juros da
divida publica e apenas 3,9% para saúde.
O segundo passo se passa por politicas que
enfrentem a base desses problemas. Avançar na redução de trabalho, aumento da
renda e oportunidades de cultura e lazer são passos fundamentais. Onde as
pessoas trabalhem para viver e não vivam para trabalhar, isso se passa
essencialmente por enfrentar a grande
capital, medida que de fato só pode ser aplicada pelos trabalhadores unidos. Uma
sociedade sem opressão, uma sociedade possibilite o direito a felicidade.
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